O Projeto Jovem Maçom nasceu da iniciativa do Irmão Gabriel Mello, conhecido no meio da galerinha como “Pudim”, em querer compartilhar suas experiências e anseios sobre a Maçonaria, por justamente ser muito jovem (23 anos) e já fazer parte da fraternidade. O projeto ganhou forma e ele decidiu contar com outros escritores para falar sobre o tema. Eu fui um deles, e segue agora o meu terceiro texto para o blog:
Todos que fazem parte da fraternidade sabem que a maçonaria simbólica é composta de três graus: aprendiz, companheiro e mestre. Passar pelo processo de aprendizagem e avaliação para avançar nas etapas é algo universal na maçonaria. Então, além do simbolismo exemplificado nas cerimônias iniciáticas, há ainda instruções ministradas com ensinamentos filosóficos de cunho moral que cada maçom deve aprender para progredir na fraternidade. E a forma de avaliação do obreiro é o assunto que vamos trabalhar hoje.
No Brasil, o processo avaliativo comum é a confecção de monografias acerca das instruções aprendidas, chamada também de Peça de Arquitetura. Em outros países é comum que cada obreiro candidato a avançar de graus na maçonaria, seja testado na memorização das instruções, assim como na fala dos oficiais para assunção de tal tarefa.
Ainda sobre métodos de avaliação, em minha palestra acerca da arte da memória, chamo a atenção para os Estatutos de Schaw, que em sua segunda versão, do ano de 1599, o Mestre de obras do rei da Escócia estabelece a testagem dos pedreiros na arte da memória acerca de tudo que aprenderam. Então, de cara, percebemos que uma fraternidade de pedreiros do final do século XVI, o qual a maçonaria foi inspirada ou descende, não exigia um trabalho escrito, mesmo porque a maioria desses trabalhadores eram analfabetos.
Mas a escrita, é fundamental para o processo de aprendizagem? Este é um exame normal para escolas e universidades, onde a finalidade é testar os conhecimentos, mas há de se concordar que a maçonaria não é uma escola convencional, e o conhecimento sobre, não necessariamente está ligado a saber escrever.
Thomas Smith Webb em seu Monitor dos Franco-Maçons, traduzido e editado pelo mano Edgard da Costa Freitas Neto, em seu capítulo 04, fala sobre o ser maçom, e elenca que nem todos são eruditos, mas que “Todos em suas diferentes esferas podem se provar úteis a sua comunidade.”. Ainda numa nota sobre este capítulo, o mano Edgard expõe que na maçonaria brasileira, obrigamos o sujeito a escrever textos, mesmo que determinado obreiro não tenha talento para escrita, obrigando-o a fazer um texto mal redigido, muita das vezes copiados inteiramente da Wikipedia, e esquecemos de dar um tratamento individualizado para cada um.
Esse tema é recorrente em minha Loja Maçônica, pois muita das vezes fazemos a seguinte reflexão: Será que a escrita é o melhor método avaliativo? E se tivermos um excelente pintor, será que ele não pode expressar seu aprendizado em um quadro? Ou um músico, não poderia expressar seu conhecimento compondo uma melodia? Ainda permanecemos na escrita, mas permitimos que o irmão a ser testado escolha o formato de seu trabalho. Tivemos casos, de apresentação de trabalhos em Powerpoint por exemplo, o que consideramos um pequeno passo, mas um grande avanço em desenvoltura. Vale salientar, que Peça de Arquitetura, originalmente era o texto confeccionado pelo Orador da Loja para solenizar festividades e pompas fúnebres, e que em determinado momento se transformou na fatídica monografia acerca das instruções a serem realizadas pelos aprendizes e companheiros. O porquê, não sabemos, mas consagrou-se como um dos velhos “usos e costumes”.