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Qual a relação de São Sebastião com a Maçonaria?

São Sebastião é um santo católico, que em vida durante o século III, foi um soldado romano convertido ao cristianismo e devido a sua fé, foi flechado, açoitado e morto. Não necessariamente nessa ordem. Devido ao seu martírio e exemplo de fé, ganhou popularidade entre os cristãos e…

São Sebastião é um santo católico, que em vida durante o século III, foi um soldado romano convertido ao cristianismo e devido a sua fé, foi flechado, açoitado e morto. Não necessariamente nessa ordem. Devido ao seu martírio e exemplo de fé, ganhou popularidade entre os cristãos e passou a ser patrono de vários setores da sociedade relacionados ao esforço militar, questões de saúde, combate a epidemias, políticas públicas, e muitos outros conceitos relacionados à vida do soldado convertido. Inclusive é patrono da maravilhosa Cidade do Rio de Janeiro. Resta saber agora qual a ligação do Santo Católico e a maçonaria.

Segundo BEAUREPAIRE (2018), em uma França do Século XVIII, era comum a existência de Ordens ligados ao Arco e Flecha, Besta e Arcabuz, que reivindicavam uma herança das milicias medievais com códigos de honra, práticas cavalheirescas e rituais de iniciação, e que estas dialogaram com a maçonaria, tendo membros em ambas as fileiras, influenciado mutuamente inclusive em práticas ritualísticas. Essas associações muitas das vezes tinham como patrono São Sebastião, como poderemos ver a seguir.

O autor ainda nos informa sobre a existência de um estatuto comunitário entre a Loja maçônica St. Maurice e uma fraternidade chamada “Cavaleiros da Ordem do Arco”, realizado em Clermont de 15 de novembro de 1874. Vale salientar que esta ordem especificamente era ligada ao esporte de Arco e Flecha, sendo assim não é difícil imaginar que este tipo de ligação era algo normal, tendo em vista que atualmente temos lojas maçônicas ligados a moto clubes, e como exemplo mais recente no Estado do Rio de Janeiro, a ARLS Américas Nº12, jurisdicionada ao Grande Oriente do Rio de Janeiro, onde todos os membros também figuram em quadros de clubes de tiro.  

Essas fraternidades “desportivas” ainda eram mais discretas que a maçonaria quanto as suas cerimônias de iniciação, restando pouquíssimos documentos a serem consultados. Um dos poucos é um código de Cavaleiros da “Ordem do Arco ou Cavaleiros de São Sebastião”, de 1845, mas que não tem muitas informações. Porém foi descoberto um livro de memórias de Nicolas-Brice Legros, intitulado “La manière de faire le serment à ceux qui veulent se faire recevoir du noble jeu de l’arc” (A maneira de se fazer um juramento para aqueles que desejam ser recebidos na Nobre Ordem do Arco). Esse sim fornece um precioso conteúdo, descrevendo o juramento desta fraternidade. BEAUREPAIRE (2018) transcreve o texto na integra, e revela que assim como na Maçonaria, seus instrumentos (Arco, Flecha e Alvo) tem significados simbólicos. Há ainda a promessa da lealdade referente ao evangelho de São João e ao sigilo quanto a execução do ritual, além é claro da alusão ao Santo de nome Sebastião que transcreverei a seguir:

“Todo cavaleiro deve honrar e respeitar seus líderes, particularmente o rei e a cada um de acordo com o grau eles ocupam na fraternidade. O pagamento a fraternidade ocorre todos os anos durante a festa de São Sebastião onde deve comparecer ao trabalho neste dia”

Em seguida contém um questionário que possui respostas de cunho moral e simbólico a serem proferidas pelos candidatos, e como imaginado há mais duas referências ao citado santo:

“- Quantas vezes São Sebastião morreu?

Doze vezes.

– O que representa um cavaleiro em frente ao monte, com seu arco atrás dele e

seus pés em forma de cruz?

Representa o martírio de São Sebastião preso ao seu posto.”

Mesmo que muitas ordens de cavalaria ligadas ao “Arco e Flecha” tenha tido contato e membros na maçonaria, não há qualquer evidência que São Sebastião esteja ligado aos maçons. Esse texto foi fruto de uma singela homenagem ao padroeiro da cidade do Rio de Janeiro pelo seu dia e também para explorar uma curiosidade sobre sociedades iniciáticas do século XVIII.

Referências:

Pierre-Yves, BEAUREPAIRE, A Strange Encounter: Nobles Jeux de l’Arc and Masonic Lodges in the Eighteenth Century. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/305524183_A_Strange_Encounter_Noble_Orders_of_the_Bow_and_Masonic_Lodges_in_the_Eighteenth_Century. Acesso em: Janeiro de 2021

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 37 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador, Professor e editor de livros, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

Uma resposta em “Qual a relação de São Sebastião com a Maçonaria?”

Sabe aquela frase: isso não me contaram na escola?. Então! Da mesma forma, não nos contam todos os detalhes mesmo. De um certo tempo pra cá, vem se dispertando uma vontade de conhecer essa irmandade. Muitos querem entrar pensando no dinheiro. A minha vontade um dia é ser alinhado, disciplinado e ajudado. E acredito que tenho algum princípio para algum dia ser um membro. Sempre ajudo alguém quando posso. Acho muito bonito também os programas da maçonaria para ajudar os que necessitam.

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