Aproveitei as férias em meu trabalho e fui visitar uma das mais famosas e pitorescas ilhas aqui no Rio de Janeiro. Paquetá!
Vocês devem estar se perguntando porque eu não escrevi esse post em um blog de viagens ou roteiros culturais e sim no Maçonaria Tupiniquim. DESCUBRA!
Pois bem, nesta ilha viveram dois maçons proeminentes da fraternidade no Brasil. Um conhecido por suas pesquisas e críticas ácidas abordando a Maçonaria Brasileira, em forma de Jornal e livros e o outro por ser um Grande Estadista, mas traidor da Ordem. Falo respectivamente de Kurt Prober e José Bonifácio.
Quem acompanha meu blog conhece o carinho e a admiração que tenho pelo velho alemão, por isso o foco dessa expedição (uia, tô me sentindo um bandeirante aqui) foi praticamente todo dedicado ao Prober.
Nascido em Berlim em 1909, chegou ao Brasil na década de 20 ainda. Prober foi um famoso numismata, sendo considerado um “Papa” nesta classe de conhecimento. Na Maçonaria ficou conhecido por ser um ávido pesquisador da história da fraternidade no Brasil e como era detentor de uma biblioteca invejável (nas palavras dele “Implacável”), seus livros sobre o tema são repositórios incríveis de fontes primárias, tendo em quase todos eles replicações de documentos essenciais para o entendimento da Maçonaria Tupiniquim.
O dia começou com o clássico calor carioca, o telejornal anunciava que o Rio de Janeiro era o estado mais quente do país, até aí nada mudou! De Short, t-shirt e All star parti para a aventura.
De casa até meu destino demorei cerca de três horas, já beirava às 14:30 quando desci da embarcação e logo fiquei extasiado com o cenário aconchegante, mas diferente dos outros turistas eu não estava ali para um mero passeio. Eu tinha uma missão, porém estava completamente perdido e não tinha nada além do local de publicação que vinha grafado em seus livros, ou seja, “Paquetá”. Então resolvi aplicar o famoso método científico: Quem tem boca vai a Roma.
Elegi um comércio que considerei antigo e lá fui eu, mas infelizmente a senhorinha do Armazém nunca tinha ouvido falar da personalidade Maçônica/Numismática e me indicou outro comércio do qual também não obtive sucesso algum.
Segui para um estabelecimento que aluga bicicletas e resolvi perguntar ao atendente também que não soube me informar sobre meu alemão favorito, porém ele me deu uma dica muito boa onde procurar, na Casa de Artes Paquetá o atendente disse que com certeza eu descobriria algo. Peguei a bicicleta e fui.
As ruas sem asfalto, definitivamente não era problema algum, afinal incorpava o ar colonial da ilha. O chão de saibro batido, amarelo fosco contrastava com diversas cores dos muros da rua que foi indicada, pedalei por alguns minutos e logo me deparei com a estonteante Praia da Moreninha. Dobrei na rua do Padre e me deparei com um simpático coreto em frente a praia de São Roque, virei a esquerda e segui até o final, encontrando um belíssimo edifício de um vermelho cor de tijolos que abriga a Casa de Artes Paquetá. Encostei minha bicicleta e adentrei o prédio.
Assoalho de madeira, pianos e até um gramofone davam vida ao ambiente. Lá ainda me deparei com uma fantástica linha do tempo que demarcava todos os eventos e personagens importantes desde 1500. O cômodo que mais me chamou a atenção foi a adega, construída no subsolo em pedra e madeira. Logo subi ao segundo pavimento e fui atendido pela doce secretaria do Sr. José Lavrador, que ao ser informado sobre minha procura interrompeu seus afazeres para me ajudar. Nesse momento ele estava em uma reunião com um simpático amigo, que tal qual o Prober era de nacionalidade alemã e residente da ilha.
Mais uma vez perguntei sobre o velho alemão e ao descrever sua profissão e hobbies, ambos de pronto não souberam informar, mas eis que o Sr. José Lavrador lembrou de um alemão excêntrico, sisudo e bem reservado. Eu pensei “tem que ser ele!”. Os senhores não só me ajudaram como me deram um mapa distribuído pela Casa de Artes e apontaram a rua da casa de quem eu procurava. Foi o tempo de eu agradecer, respirar, tomar uma coca cola gelada e partir.
Peguei o rumo do coreto, passei pela praia do pintor e subi a rua Feliciana Borges, e foi aí que finalmente cheguei na Travessa Cerqueira, pequena rua que abriga quatro casas. Agora, qual delas seria? Avistei uma moradora da rua que estava em sua sacada e logo fui perguntar pela casa de um tal alemão, ela prontamente me respondeu feliz em ajudar “Ah, o Seu Prober! Ele morava na terceira casa, mas ele e sua esposa já morreram.”. Eu agradeci a informação e me adiantei para conhecer a residência. Finalmente me deparei com uma imponente casa azul (parece que originalmente era branca), de traços retangulares sóbrios e bem usuais, bem parecido mesmo com a personalidade do velho. Admirei o lugar por alguns minutos, tirei umas fotos da área externa da casa. Infelizmente minha cara de pau já tinha se esvaído para interpelar o morador atual e pedir para eu dar uma espiadinha por dentro. Agradeci a antiga vizinha de Kurt Prober que me respondeu “A gente como morador antigo aqui da ilha acaba conhecendo todo mundo. Fico feliz em ter ajudado.”, então eu parti.
Segui a rua até a praia do buraco que fica bem em frente ao conjunto arquitetônico que forma o Preventório Rainha Dona Amélia, que no passado servia para abrigar crianças de forma a preserva-las da tuberculose, fiz uma curva acentuada a direita e subi o morro da Covanca, onde na metade encontrei um bar e tomei uma cerveja bem gelada, admirando a Bahia da Guanabara.
Na ilha ainda visitei a casa de José Bonifácio (que todo mundo já está careca de saber quem é), o Parque Darke de Mattos, depois subi o Morro do Vigário e fiz uma agradável descida admirando a orla de todo o lado sul da ilha e finalmente parei na padaria/mercado “Frescos e Carecas” e forrei o estômago com um sublime sanduíche de mortadela e uma Coca KS.
Concluindo, não importa que eu só tenha visto a casa de Kurt Prober de fora, o sentimento de estar na rua que tantas vezes ele caminhou até às barcas para ir nas Lojas Maçônicas no Rio era impagável. A grande verdade é que quando eu saí de casa, não existia certeza efetiva que encontraria a residência de Prober, então aqueles minutos admirando a casa já foram o suficiente para eu me sentir realizado.
Se quiser conhecer melhor a Ilha entre em contato com a: Casa de Artes Paquetá
CAPA: Foto de Paquetá por Marcelo Candidoli. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Paquet%C3%A1#/media/File:Paqueta2008.JPG, Acesso em Janeiro de 2019.