Quem acompanha meu trabalho, conhece a história do Grande Oriente Brasílico e sabe dos envolvimentos das elites brasileiras e a sua motivação enquanto instituição pela causa da Independência. No entanto, as elites que almejavam uma independência, não necessariamente concordavam com o sistema de governo proposto. Barata (2002) ao citar Renato Lopes Leite[1] explica que existiam confrontos de projetos políticos diferentes, no caso, se referindo aos republicanos e monarquistas. Em sua análise diz:
“se é necessário pensar que os anos que antecederam a Independência foram marcados inicialmente pelo confronto entre projetos políticos diferenciados, dos quais a opção pela “República” estava no horizonte, é necessário também perceber que nesse período a maçonaria não era um todo monolítico. Ao contrário, o espaço maçônico era cruzado por diferentes tendências, projetos e ideias. Daí a sua riqueza, mas também a sua principal fragilidade, pois as dificuldades de formação de um consenso normalmente geravam cisões, divisões que irão marcar a história da maçonaria no decorrer dos séculos XIX e XX.”
Percebemos que mesmo a maçonaria fluminense, tendo como objetivo institucional a Independência do Brasil, existiam correntes políticas diferentes no seio da própria instituição. Mas em nome de um objetivo comum, os maçons cariocas acabaram por propor e iniciar o Príncipe D. Pedro, elevando-o ao cargo de Grão Mestre da Ordem. Acredita-se que o príncipe tenha se aproximado dos maçons, não só pelo apoio, mas também para acompanhar de perto os republicanos que faziam parte da fraternidade.
Em outubro de 1822, após a Independência do Brasil, dias depois do empossamento de D. Pedro como Grão Mestre, uma parte da Maçonaria foi acusada de republicanismo, o que ocasionou o fechamento da ordem por parte do então Imperador. Em seu bilhete a Gonçalves Ledo sobre a suspensão dos trabalhos, explicava que a cessamento dos trabalhos maçônicos seria rápido, apenas para averiguar as informações das denúncias, e que assim que fossem feitas as sindicâncias, o Grande Oriente retornaria aos trabalhos. Assim foi feito, quatro dias após o episódio, outra carta endereçada a Ledo, autorizava o retorno dos trabalhos, conforme a seguir:
Vos faço saber que segunda-feira que vem, os nossos trabalhos devem recobrar o seu antigo vigor, começando a abertura pela G:. L:. (Grande Loja) em Assembleia Geral.
(Barata, 2002)
A carta parece apontar para o retorno à normalidade dos trabalhos maçônicos, isso se o Ministrado de Estado José Bonifácio não promovesse uma devassa contra os maçons fluminenses logo em novembro de 1822. Após prisões e deportações de todo o tipo, os maçons do Grande Oriente Brasílico não se sentiram seguros para se reunirem até 1831. Se sabe muito pouco da Maçonaria Brasileira do final de 1822 a 1830. O livro Anais Maçônicos Fluminenses[2] relata que o próprio Imperador convidou os maçons ao Palácio da Quinta a retornarem aos trabalhos, mas que por receio não aceitaram. A mesma obra fala sobre a instabilidade da existência de Lojas Maçônicas nesse período. Por este motivo, a existência de documentos antimaçônicos neste momento é tão relevante para se investigar as atividades desta época, e são com esses documentos que desenvolvo um capítulo inteiro sobre a Maçonaria na Década Perdida, contante em minha nova publicação: Maçonaria Tupiniquim: ensaios sobre a história da maçonaria brasileira do século XIX
Clique na imagem abaixo para garantir seu exemplar:
Referências:
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência (Brasil, 1790 – 1822). Campinas, SP: [s.n], 2002.
BARATA, Alexandre Mansur. DEFENSORES DA “CAUSA DO BRASIL E DA SUA INDEPENDÊNCIA”: MAÇONARIA E INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. Disponível em: https://bicentenario2022.com.br/textos/. Acesso em Março de 2023.
Anais Maçônicos Fluminenses: Inconfidências da Maçonaria de 1834. Edição revisada de Cloves Gregorio.
[1] Leite, Renato Lopes. Republicanos e Libertários: Pensadores Radicais no Rio de Janeiro.
[2] Gregorio, Cloves. Anais Maçônicos Fluminenses: Inconfidências da Maçonaria de 1834.