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O Curioso caso do Grande Capítulo do Rito de York (Que nunca funcionou no citado rito)

Hoje abordaremos a história de um corpo maçônico que existiu no Brasil, que não condizia em nada com o seu nome e até hoje causa confusão na mente dos maçons menos esclarecidos. Geralmente em meus textos eu faço uma breve descrição sobre o objeto de estudo, mas dado a complexidade deste, antes de falar propriamente dito sobre este Grande Capítulo, farei um breve resumo acerca de alguns dados para deixar mais fácil o entendimento.

Cópia do acordo de estabelecimento do citado Grande Capítulo do Rito de York, extraido da Obra “ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL” PARTE 3, de Kurt Prober, sob o pseudônimo de Isa Ch’na.

No Brasil há uma grande confusão sobre o que é o Rito de York, que vem sendo paulatinamente desmistificado pela rapaziada do Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil. Essa confusão teve seu ápice quando erroneamente um Ritual Emulação foi traduzido como Rito de York, mas tem suas origens nos primórdios da maçonaria no Brasil.

Segundo nosso Irmão Kennyo Ismail (2011) “Emulação é um dos Rituais adotados por Lojas da Grande Loja Unida da Inglaterra. É o mais popular deles. Existem outros adotados na GLUI: Stability, Unanimity, Oxford,Sussex, Logic, Perfect, Standard, Taylor’s, Revised, Bristol, etc.”. Na mesma matéria o Irmão Kennyo explica que o Rito de York foi aprovado e adotado nas Grandes Lojas Americanas em 1797 e que “Sua base são os antigos costumes da Grande Loja dos Antigos e da Grande Loja da Irlanda, que eram muito parecidos.”.

Cópia do acordo de estabelecimento do citado Grande Capítulo do Rito de York, extraido da Obra “ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL” PARTE 3, de Kurt Prober, sob o pseudônimo de Isa Ch’na.

Agora sabendo o básico que Ritual Emulação não é o Rito de York, vamos à história. Anteriormente neste mesmo BATBLOG, esclareci que O Grande Oriente dos Beneditinos fundou a primeira loja do legítimo Rito de York Americano (Ver detalhes em: Um Passeio pela História da Maçonaria no Brasil. (Parte 8) – Grande Oriente dos Beneditinos), ou seja, a Loja Vesper em 30 de novembro de 1872. Segundo Joaquim da Silva Pires (2017), em sua obra “Introdução à Simbologia e à Ritualística Maçônicas”, acredita que devido à fundação desta loja, os Beneditinos conseguiram um parecer favorável da Grande Loja de Wisconsin, impulsionando esta obediência a dar carta constitutiva a Washington Lodge de Santa Barbara d’Oeste – SP, formada por imigrantes americanos e a fundar a loja Lessing em Santa Cruz do Sul – RS, ambas do mesmo rito. Se bem que PIRES (2017) acredita que a Loja Lessing não funcionava no Rito de York, já que seus fundadores eram alemães.

Ainda segundo PIRES (2017), houve três lojas sob orientação inglesa no Brasil jurisdicionado a UGLE (United Grand Lodge of England, em português Grande Loja Unida da Inglaterra), porém quando o Grande Oriente dos Beneditinos se fundiu ao GOB (Grande Oriente do Brasil) em 1883, estas três lojas já não existiam mais, assim como a Loja Vesper, sendo assim, em 1891 o GOB fundou sua primeira Loja de orientação inglesa, ou seja, a Eureka Lodge e que devido os seus trabalhos ocorrerem no idioma inglês, os maçons cariocas acreditavam funcionar no Rito de York, assim como a Washington Lodge. Essa teoria de Joaquim da Silva Pires casa com a de Kennyo Ismail em seu texto bem mais descontraído “RITO DE YORK X RITUAL EMULAÇÃO”, já citado anteriormente. Agora que sabemos o gérmen da confusão sobre o entendimento do Rito de York, vamos à história do surgimento do corpo apontado no título.

GRANDE CAPÍTULO DO RITO DE YORK

Nos idos do início do século XX, a Maçonaria Brasileira era bem politizada, afinal era muito mais próxima dos ideais da fraternidade da França e em Portugal, o que causava certo incomodo nos Irmãos ingleses que praticavam a Arte Real em Terras Tupiniquins.

Cópia do acordo de estabelecimento do citado Grande Capítulo do Rito de York, extraido da Obra “ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL” PARTE 3, de Kurt Prober, sob o pseudônimo de Isa Ch’na.

Segundo Felipe Côrte Real de Camargo (2016), Doutorando em História, em artigo para revista REHMLAC, narra que “Do lado inglês o receio quanto ao descumprimento de preceitos básicos da maçonaria, o que levaria à irregularidade, era temperado com um pragmatismo quanto a sua zona de influência nas Américas.”, para tanto os britânicos fizeram uma série de relatórios sobre a situação da maçonaria no Brasil, inclusive pedindo para que a UGLE revesse o tratado de reconhecimento quanto à regularidade do GOB. CAMARGO (2016), ainda relata que as denuncias se agravaram em 1912, do qual fez que os maçons ingleses enviassem uma comissão para verificar o cenário.

Lauro Sodré, então Grão Mestre do GOB, safo¹ do jeito que era, arranjou uma saída diplomática para os problemas relatados sem abrir mão da soberania da obediência que estava a frente, ou seja, ainda em 1912 criou um Corpo Maçônico jurisdicionado ao próprio GOB que ficaria responsável pela liturgia de orientação Inglesa. Esse corpo foi batizado de Grande Capítulo do Rito de York. Nome esse equivocado, como já foi exposto anteriormente nesse artigo.

Esta atitude destemida de Sodré além de manter o status Quo do Grande Oriente do Brasil, garantia os mesmo direitos à obediência brasileira em solo Inglês. CAMARGO (2016) em seu trabalho transcreveu um relatório escrito  pelo Barão de Ampthill para UGLE, do qual replicarei abaixo:

Em resumo, as lojas inglesas levarão uma existência separada sob a “proteção” do Grande Oriente e podemos assim considerar este acordo como um ato amigável que podemos reconhecer permanecendo em termos de civilidade mútua com o Grande Oriente embora as relações fraternais de fato estejam no fim.

Como tudo que é bom dura pouco, o Irmão José Maria Moreira Guimarães, em 1935, então Grão Mestre assinou um tratado de Convênio de Aliança Fraternal, dando aval a UGLE estabelecer uma Grande Loja distrital aqui no Brasil, e cá estamos nós até dos dias de hoje, e antes que pergunte, NÃO, não há reciprocidade nesse acordo! É amigos, Sodré era único!

A notícia boa é que para celebrar o aniversário de Independência de Portugal e subordinação à Inglaterra, este ano estou disponibilizando em PDF uma cópia fiel, inteiramente grátis (não é promoção da tekpix!) do acordo de estabelecimento do citado Grande Capítulo do Rito de York, cópia essa de 06 de novembro de 1921, do qual eu digitalizei da Obra “ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL” PARTE 3, de Kurt Prober, sob o pseudônimo de Isa Ch’na. Confira no link Abaixo!

Grande Capítulo do Rito de York

Para saber mais sobre a História da Maçonaria no Brasil, se inscreva no I SIMPÓSIO DE CULTURA MAÇÔNICA DA ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR N°21, que será realizado aqui no Rio de Janeiro no próximo dia 23 de setembro de 2017.

Saiba mais em: I SIMPÓSIO DE CULTURA MAÇÔNICA DA ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR N°21

 


¹ Na quebrada/gueto diz-se safo aquele sujeito esperto, desenrolado, desenvolto, habilidoso.

Referências

Cloves Gregorio é Mestre Maçom no Simbolismo, 

Cavaleiro Eleito dos Nove (Gr 9 REAA) e Maçom do Real Arco.

 

Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 37 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador, Professor e editor de livros, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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