Falar de qualquer guerra é sempre triste, mesmo que habite o imaginário e seja inspiração para uma tonelada de obras ficcionais, pois envolve morte, destruição, e tudo que há de mais vil na sociedade. E se pararmos para pensar, todos os lados envolvidos em uma batalha, acreditam que estão fazendo a coisa certa, se não, não fariam, correto? O questionamento agora é: O que acontece e como se comportam quando dois maçons de lados opostos se encontram em uma guerra? Já que pregamos que a fraternidade é universal, sem distinção de credo, raça ou nacionalidade.

Talvez a história de guerra mais conhecida envolvendo maçons seja a que deu origem ao memorial “Friend to Friend”, monumento erigido pela Grande Loja da Pensilvânia que retrata dois maçons de lados opostos na guerra civil americana, um em ação de socorrer o outro ferido. Em teoria, durante uma batalha em Gettysburg em julho de 1863, o capitão da união e maçom Henry H. Bingham, reconheceu como irmão e socorreu o brigadeiro confederado, general Lewis Addison Armistead, que estava ferido ao chão. Este, em sinal de confiança pediu para que o capitão guardasse seus pertences pessoais, que reuniam esporas, relógio de bolso, chancela e carteira. Essa história é um símbolo de fraternidade que sobrevive até as mais extremas adversidades, como é o caso da guerra.

Ainda sobre a guerra civil americana, a Grande Loja de Illinois emitiu 1757 certificados maçônicos de guerra, uma espécie de passaporte maçônico que atestava a condição de membro da fraternidade e sua boa conduta. É o caso do documento em Irmão Phineas Lovejoy.
Os passaportes maçônicos não ficaram restritos a guerra civil americana. Em 1818 a Continental Lodge Nº287, jurisdicionada a Grande Loja de Nova York, emitiu uma carta em quatro línguas (Inglês, Francês, Italiano e Alemão) em favor do Irmão Edward C. Ehlers, que estava lotado nas Forças Expedicionárias Norte Americana durante a Primeira Guerra Mundial, informando que se tratava de um membro digno da fraternidade, pedindo que qualquer irmão que o encontrasse o cuidasse com amor fraternal, e o ajudasse caso corresse perigo.

A Loja Maçônica Ayr Saint Paul Nº204, jurisdicionada a Grande Loja da Escócia também emitiu esse tipo de passaporte durante a Primeira Guerra Mundial, que atestava a regularidade do Irmão, e a que força militar pertencia. O certificado constante nesse texto pertenceu ao Irmão Francis Henry Bray, e foi emitido em 07 de janeiro de 1919.

Ao avaliar esse tipo de documento, podemos imaginar que mesmo de lados opostos, existia certo respeito e fraternidade entre os membros da maçonaria. Devido ao desenvolvimento das relações diplomáticas, acredito que as grandes guerras sejam cada vez mais raras, mas a pergunta que deixo é: Como os maçons de agora se comportariam se encontrassem com seus pares em lados opostos em uma batalha?
Referências:
Gettysburg Freemasons. Friend-to-friend memorial. Disponível em: https://www.gettysburgfreemasons.org/friend-to-friend-monument/. Acesso em dezembro de 2020.
Scottish Rite Masonic Museum & Library. A Fraternity Goes to War: The History of a Masonic Civil War Certificate. Disponível em: https://nationalheritagemuseum.typepad.com/library_and_archives/2015/10/a-fraternity-goes-to-war-the-history-of-a-masonic-civil-war-certificate.html. Acesso em dezembro de 2020.
Ayr & Renfrew M St Paul Lodge Nº204. History of Lodge Ayr St. Paul 204. Disponível em: https://ayr204.com/history.html. Acesso em dezembro de 2020.
OSIRI. Ratirat. Exploring the Travel Certificate Collection. Disponível em: https://nymasoniclibrary.org/exploring-the-travel-certificate-collection/. Acesso em dezembro de 2020.
Uma resposta em “Como um Maçom se comporta em uma Guerra?”
A alegria de um irmão motiva a do outro, assim como quando nos damos as mãos, ao agradecermos por sermos parte de uma imensa Ordem com princípios inabaláveis.