Neste período de final de ano, as pessoas de modo geral ficam mais caridosas e frequentemente fazem mais doações para levar alívio a pobreza e insegurança alimentar. O mesmo ocorre com as Lojas Maçônicas e suas campanhas para a caridade. Vocês já se perguntaram o porquê desse fenômeno?
A psicóloga Triana Portal, explica que pesquisas na área revelam que o Natal evoca sentimentos de agradecimento, doação e partilha, além de provocar reflexões acerca do que passou no decorrer do ano e o que virá.
Oliveira (2022) diz que “Uma pesquisa publicada na revista científica Journal of Experimental Social Psychology, em 2013, analisou 27 estudos que exploram as ligações entre generosidade e felicidade. O relatório concluiu que, em geral, há uma ligação significativa entre os dois.”. A jornalista, sobre o mesmo estudo ainda explica que a caridade ativa regiões cerebrais envolvidas no processamento de recompensas. Ou seja, muitas vezes doar é recompensante, principalmente, se for divulgado, pois existe uma aprovação social referente a ajuda prestada a outros.
Sobre a maçonaria, vejo muita beneficência no decorrer do ano, mas na época natalina, até mesmo pela influência social, existe um movimento muito maior em distribuição de cestas básicas e afins. Existem Lojas que juntam dinheiro no decorrer do ano, apenas para doar nesta época. A reflexão que busco aqui é: Será que temos que esperar o Natal para ser caridosos? A segunda reflexão: Será que as pessoas em vulnerabilidade social precisam apenas de alimentos?
Essa reflexão é fruto da minha vivência social e maçônica, pois lembro de discussões homéricas sobre tais assuntos. A doação material é sempre vista com bons olhos, enquanto uma doação monetária é vista com desconfiança. Tem também outros “poréns”, como por exemplo, algumas lojas não podem terminar o ano com valor positivo para beneficência, é imperativo: tem que se gastar na ação de Natal.
Sobre ambos os assuntos, é muito claro em minha perspectiva, pois vivo na periferia, que a insegurança alimentar não existe apenas no período natalino e que como disse o apóstolo Matheus “Nem só de pão vive o homem”. Existem diversas dificuldades na vulnerabilidade social, coisas básicas como saúde, educação e cultura. Levando em consideração a lei econômica primordial, que é “recursos escassos para necessidades ilimitadas”, você pode me perguntar: Como a maçonaria pode contribuir com tudo? A resposta é: Não pode. Escolhas terão que ser feitas.
Olhando para o passado, no Boletim do Grande Oriente do Brasil de abril de 1890, é relatado que a Loja Firmeza e Humanidade, do Pará, fez uma campanha de arrecadação e doação de recursos de 21 de dezembro de 1888 até 20 de março de 1889 e beneficiou monetariamente cerca de 200 pessoas, pois além da insegurança alimentar, existia um surto de varíola. A festividade de Natal serviu para arrecadar fundos. É informado ainda que mais de 4 milhões de reis foram arrecadados em dinheiro e que cerca de 2 milhões em roupas e medicamentos, além de irmãos da área de saúde prestarem o serviço de forma gratuita. No final do relato foi escrito que:
Além do socorro material, era lhes dado alento e a esperança, pelas suaves e doce faces caritativas (…)
Podemos afirmar que nenhum indigente pediu auxílio que fosse negado. Preferia-se dar mesmo a quem totalmente não precisasse, do que deixar de dar a quem reclamasse o óbolo da caridade.
Em tempos outros, talvez a caridade fosse maior em outros campos que não só o alimentar, pois as instituições do governo e a assistência social não proviam da forma que o fazem atualmente, mas não somos cegos para saber que ainda hoje, pessoas em vulnerabilidade precisam de nossa ajuda, e não só com comida e nem só em dezembro.
Atualmente acontece de muitas Lojas esperarem a caridade perfeita, e eu vos digo com propriedade, que a caridade perfeita é aquela que socorre o desafortunado. Minha Loja, a União Barão do Pilar Nº21, aceitou que não temos capital humano para organizarmos uma campanha de beneficência, então nós repassamos os valores recolhidos para beneficência a um projeto chamado “Distribuindo Amor” que distribui quentinhas (marmitex) e água potável para pessoas em situação de rua e/ou vulnerabilidade social nas redondezas de onde estamos baseados.
A experiência me diz que dinheiro é mais prático, mesmo porque esses projetos de distribuição de alimentos têm outros custos como energia, empregados e afins. Para os maçons mais desconfiados, ainda existem instituições de assistência essencialmente maçônicas, como a Casa do Maçom, que auxilia maçons e seus parentes que estão em tratamento no Hospital de Câncer de Barretos.
Existem diversas outras instituições de confiança que auxiliam as pessoas vulneráveis na segurança alimentar como Bancos de Alimentos e a Central Única das Favelas (CUFA), que aceitam doações em dinheiro e de forma online.
Se você ou sua Loja acredita que doar pouco, pois não possuem muitos recursos, é a mesma coisa que doar nada, estão completamente enganados. Esses dias mesmo, a Grande Loja da Escócia fez uma publicação que seus colaboradores, ao invés de fazerem o jogo do amigo secreto no final do ano, resolveram doar para um banco de alimentos local o valor de £5 que cada um gastaria com a brincadeira.
Para encerrar o assunto, cito minha obediência maçônica, o Grande Oriente do Rio de Janeiro, como bom exemplo em recompensa distintiva. As Lojas em nossa obediência têm o título de Augusta e Respeitável Loja Maçônica (ARLS), porém através de seu código de recompensa, regulamentou o título distintivo, acrescendo duas categorias, ou seja, Benemérita e Grande Benemérita. Para ter direito para tanto, as Lojas precisam ter respectivamente 25 anos e sustentar uma instituição de ensino ou um aluno, e 50 anos e sustentar uma instituição de ensino ou um aluno. O pior é que tem irmãos que dizem ser difícil sustentar um aluno! Oras, as Lojas nem são obrigadas a isso, Só as que solicitarem o título. Tirando que se uma Loja com 30 pessoas não consegue sustentar a mensalidade escolar de um aluno, é melhor fechar as portas.
Citando o dito popular: O que pode parecer pouco para você, pode ser muito para alguém. Completo ainda com letra do Titãs: A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte. Seja qual for o resultado de sua doação, alimento, educacional, cultural, etc. Doar faz bem à alma, corpo e mente!
Abaixo, seguem algumas instituições que podem ser apoiadas com sua ajuda:
Banco de Alimentos: https://bancodealimentos.org.br/
Central Única das Favelas: https://www.cufa.org.br/
Casa do Maçom: https://www.casadomacom.org.br/
Referências:
Boletim do Grande Oriente do Brasil de abril de 1890.
Carvalho, Wellington. Estudos apontam que pessoas são mais solidárias no Natal. Disponível em: https://www.boavontade.com/pt/dia-dia/estudos-apontam-que-pessoas-sao-mais-solidarias-no-natal. Acesso em dezembro de 2022.
Oliveira, Juliana. Por que as pessoas ficam mais solidárias no Natal? Disponível em: https://www.terra.com.br/byte/por-que-as-pessoas-ficam-mais-solidarias-no-natal,c19e5299b1b6f2e003491529bcb1f967xcq4hu89.html. Acesso em dezembro de 2022.