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Boas práticas Maçônicas 02 – Tornando a Maçonaria mais acessível

Olá pessoal! Hoje damos continuidade ao projeto “Boas práticas” conversamos com o irmão Roberto Cidade da loja Colunas da União e abordamos alguns temas que, apesar de sua importância, costumam ser evitados por muitos irmãos:  dinheiro e idade.

Não deve ser surpresa para ninguém que o maçonaria está velha. Qualquer passeio pelas reuniões maçônicas irá confirmar essa informação. Porém, para aqueles que tiverem interesse em entender mais a fundo a questão, o irmão Kennyo Ismail tem um excelente trabalho nesse sentido, que pode ser lido aqui.

Resumindo para os apressados, a média de idade dos maçons brasileiros era, em 2018, 52 anos, sendo a maior concentração de irmãos na idade 57 anos.

Nesse ritmo, se faz necessária uma reflexão sobre o que nos trouxe até aqui e como podemos reverter esta situação, ou em outras palavras, como podemos aumentar a quantidade de jovens iniciados na maçonaria?

Do contrário, nas próximas duas décadas a maçonaria brasileira perderá a maior parte de seus membros para o Grande Oriente Eterno, considerando que a expectativa de vida do brasileiro, segundo dados oficias, gira em torno de 72 anos.

Feita esta introdução, vamos ao que interessa.

1 – Primeiramente, você pode se apresentar?

Sou Roberto Cidade, administrador de empresas e contador, casado, uma filha, nascido em 29/03/1968, iniciado em 21/10/1995, instalado em 16/12/1997, Ex-VM da Loja Obreiros da Liberdade nº. 96 (REAA) e PMI da ARLS Colunas da União nº. 175 (Emulação) ambas na Grande Loja do Paraná. Segundo Principal do Capítulo Santo Real Arco de Jerusalém Paz e Amor nº. 03 (Maringá-PR), Grau 33 de pelo SC do Grau 33 para a RFB (Jacarepaguá) e ME pelo SGC de Maçons do Real do Brasil.

2 – Você pode explicar, resumidamente, o projeto?

Nosso projeto foi a criação de uma Loja Maçônica com um Ritual mais fluído e objetivo (que propiciasse reuniões mais rápidas e para trabalho e discussão de temas filosóficos, atuais e ritualísticos) e com uma estrutura de baixo custo, que permitisse a sêniors DeMolay, universitários, profissionais em início de carreira ou ainda com poucas posses a participação em uma Loja Maçônica sem prejuízo de seu sustento, buscando com isto rejuvenescer a ordem garantir a sua perpetuidade.

3 – Qual foi a motivação para sua implementação? De onde veio a ideia? Como o projeto veio a existir?

A tempos discutíamos que as novas gerações teriam dificuldades para se adaptar ao REAA e poderiam ter uma adaptação melhor ao Emulação e também que em cidades do porte da nossa, por conta dos custos de Iniciação e manutenção, o candidato só teria condições de ser iniciado quando estivesse financeiramente estável, o que ocorreria entre os 30 e os 40 anos, fase em que já teria seu caráter formado e o conhecimento maçônico não teria grande influência no mesmo, ou seja, se fosse um bom cidadão a Ordem não acrescentaria muito e se fosse um mau cidadão, seria mais um pilantra com conhecimento de STP e uma agenda de telefones.
Destas reflexões em conjunto surgiu a ideia de criar uma Loja do Ritual de Emulação e com custos substancialmente mais baixos que as demais em relação a Iniciação e Mensalidades.

4- Como o projeto foi disponibilizado? Quais ferramentas foram utilizadas? Quais caminhos foram tentados para levar o projeto ao seu público alvo?

Os primeiros mentores da ideia desenvolveram um projeto e plano estratégico (inspirado num trabalho feito pelo Ir Tiago Valenciano para a Loja Schroder), definimos Missão, Visão e Valores e em seguida conseguimos um local provisório para as reuniões. Ato contínuo buscamos nosso público nas fileiras do Rotary Club e da Associação Comercial da cidade e com uma série de nomes nas mãos começamos a planejar e executar Iniciações e implantar uma agenda rígida de estudo de preleções e apresentação de trabalhos de cunho maçônico, o que continua em ação até hoje.
No momento, dos 9 fundadores (um faleceu algum tempo depois) temos hoje 33 Irmãos no quadro (a Loja foi oficialmente fundada em 01/12/2014 e teve suas primeiras reuniões em 05/2015).

5- Qual foi a recepção do projeto entre os maçons e não-maçons? Foi possível obter um feedback?

Entre os maçons, principalmente os da mesma potência (Grande Loja do Paraná) houve um certo descrédito no início e apoio mesmo recebido apenas do Grão Mestre e do Delegado Distrital da época, mas com o tempo e o crescimento sólido de quadro e de qualidade maçônico dos Obreiros, além do envolvimento da Loja nas atividades da Potência, esta imagem foi mudando e a Loja passou a ser respeitada e apreciada.
Entre os não-maçons é difícil medir, mas como tivemos pouca ou nenhuma recusa a convite para ingresso até o momento, acredito que a recepção foi boa.

6- Qual foi a maior dificuldade em sua implementação?

Sinceramente, nenhuma dificuldade importante, uma vez que o processo de fundação não foi feito de forma emocional, mas planejada e tranquila. Como ninguém saiu brigado de sua Loja de origem a transição e o planejamento foram tranquilos, tanto que em poucos meses Iniciamos nossos primeiro 5 candidatos e começamos a receber algumas filiações de adormecidos.
Inicialmente usamos o Templo da Loja Schroder e em seguida o da Loja Luz e Ciência de Sarandi (ambas do GOP), até que ao final do primeiro ano alugamos uma sobreloja com duas salas e montamos nossa Sala de Loja e uma área social em Maringá (nossa cidade sede), onde estamos desde então.

Sala de loja da ARLS Colunas da União
Casa cheia!

7- Como se encontra, atualmente, o projeto?

Está indo de vento em popa, com vários candidatos em fase de avaliação e o programa de desenvolvimento em curso, esperamos em 2019 fazer nosso primeiro ágape ritualístico à moda inglesa com apresentação de palestra e discussão sobre tema ritualístico.

8- Quais recomendações você daria para outros irmãos que desejem implementar algum projeto semelhante? O caminho das pedras, por assim dizer.

Não fazer nenhum movimento ou ação de forma acelerada ou não planejada, estudar bem os custos e o potencial de crescimento e de implementação antes de começar a empreitada e, claro, desde o início estar alinhado com sua Potência, pois esta tem que entender muito bem o projeto e os objetivos.

9 – Eu defendo bastante a redução de custos e facilitação do ingresso de jovens em nossa ordem. Porém, percebo que existe um receio, quase universal, entre os irmãos que acabam associando a diminuição de custos para entrar e permanecer na ordem com a diminuição da qualidade dos candidatos. Esses irmãos defendem que os custos exercem uma função de barreira que afasta os curiosos e aqueles que não estão, de fato, interessados na maçonaria, gerando uma alta rotativa de membros. Pela sua experiência, você acredita que esse receio tem fundamento? Sua loja possui dificuldade de retenção dos irmãos mais novos?

Acho esta barreira uma estupidez, o corte tem que ser por potencial, caráter e personalidade e não por dinheiro. Dos candidatos que iniciamos desde a fundação, apenas dois saíram antes do grau de MM por terem se mudado do país, um continuou sua carreira na GL de Massachussets e outro na GL da Argentina.

Não tivemos nenhum problema de retenção. A retenção se faz pela fraternidade em Loja e pela qualidade dos trabalhos, não pelo custo.

10 – Outro receio comum é que ao aceitar candidatos que ainda não possuem um certo nível de estabilidade financeira o índice de inadimplência das lojas poderiam aumentar, impossibilitando seu funcionamento. Comparando os índices de inadimplência da sua atual loja com as lojas que você já participou e outras com as quais possui contato, você enxerga essa “super inadimplência” como um perigo real?

A inadimplência na LCU175 segue o mesmo padrão das outras Lojas, causada no mais das vezes por desemprego ou dificuldades temporárias e pouco tem a ver com faixa de renda.

11 – Uma última pergunta: Você saber a idade média, aproximada, dos membros de sua loja?

38 Anos. O irmão mais velho está com 61 anos. O mais novo com 27 anos.

 

Comentários do Autor 

Como um ferrenho defensor da redução de custos da maçonaria eu estava ansioso para escrever sobre esta experiência.

Os dois pontos mais comumente levantados quando argumento pela redução dos custos e facilitação do ingresso na ordem, em especial dos mais jovens, são a inadimplência e a tal “barreira” financeira. Chega a ser curioso como SEMPRE que se fala em reduzir o valor da mensalidade/iniciação alguém responde “mas aí qualquer um vai iniciar na ordem”.

Na realidade, é exatamente o contrário, pois como dito pelo irmão Roberto, o corte não se pode dar por razões financeiras, mas outras como caráter e personalidade. Dessa forma, reduzindo os custos aumentamos o conjunto universo de candidatos e podemos ser mais rigorosos em nossas sindicâncias com as coisas que realmente importam!

Igualmente, a questão da inadimplência parece não se sustentar. Como mencionado na entrevista, as taxas de inadimplência na loja modelo são exatamente as mesmas das demais lojas e se dão, em sua maioria, por dificuldades temporárias e desemprego do irmão, situações estas que podem acontecer com qualquer pessoa, independente de seu grau de estabilidade financeira.  Eu diria, ainda, que a terceira grande causa para a inadimplência é justamente a falta de interesse do irmão na maçonaria e a maneira de resolver isso não é iniciando pessoas com mais recursos e sim iniciando pessoas com mais interesse na ordem (e mantendo-as interessadas, claro).

Um terceiro argumento utilizado ao defender as dificuldades em entrar na ordem maçônica espelha uma ideia, em minha opinião antiquada, de que a maçonaria é o lugar dos líderes e chefes e não dos seguidores ou operários. Se entendemos que a função da maçonaria é a mudança do indivíduo essa ideia cairá por terra rapidamente. Longe de mim negar a importância de darmos o bom exemplo, mas acreditar que apenas aqueles em posição de liderança podem servir de exemplo ou inspiração é uma forma míope de enxergar a realidade.

Seja como for, o sucesso da loja  LCU175 para desbancar todas essas questões. Eu não conheço nenhuma outra loja que possa dizer que desde 2014 até hoje perdeu apenas 4 dos 27 iniciados que tiveram, dois deles tendo ido morar no exterior e o terceiro no Rio de Janeiro, que mantiveram suas vidas maçônicas ativas!

Para encerrar estes comentários, que já estão bem maiores do que deveriam, eu gostaria de entrar no mérito deste sucesso. O que levou a LCU175 a dar certo? Eu acredito que a loja maçônica, como toda associação, precisa ter um propósito, uma razão de ser. Quanto mais claro este propósito e quanto mais os membros da loja se identificarem com ele, mais forte será a loja. A LCU175 foi fundada com um propósito claro, tendo sido inclusive criado o conjunto ” Visão, missão e valores”, muito comum em empresas.

Ou seja, enquanto muitas lojas ainda são criadas por ego ferido do irmão que não se elegeu VM ou do dono da loja que não emplacou seu escolhido, a LCU175 seguiu por um caminho totalmente diferente. Os membros fundadores possuíam uma visão e se organizaram para implementá-la. Sem brigas internas, sem picuinhas, sem ego ferido. Ninguém saiu brigado de suas lojas de origem. Precisamos entender que é muito mais fácil agregar pessoas com um propósito construtivo, como o estudo, do que com um propósito inútil, como acariciar o ego de um ou outro.

Desse relato ficam dois ensinamentos: se queremos que a ordem sobreviva por mais cem anos, precisamos abrir as portas para os mais jovens e isso se dará, necessariamente, pela facilitação financeira; e se queremos que as lojas se mantenham, precisamos dar a elas um objetivo, uma razão de existir, que seja capaz de agregar vinte ou trinta homens de diferentes origens e culturas, o que não é nada simples.

Missão, Visão e Valores da LCU175

Quer ver seu projeto aqui? Fale conosco!

Acompanhe o projeto: Boas práticas 01 – Educação em ciência política

 

 

Por Aylton Cordeiro Neto

Mestre Maçom na ARLS União Barão do Pilar, 21, no rito de York foi exaltado Maçom do Real Arco e no Rito Escocês Antigo e Aceito alcançou o grau 11. Graduado em Matemática e graduando em Direito, possui especialização em Maçonologia.