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Alfabeto Maçônico

Se vocês acham que criptografia é um negócio novo, estão muito enganados. Nossos irmãos do passado não foram os primeiros, mas já trabalhavam com mensagens cifradas desde o Século XVIII. Neste texto, abordo sobre o sistema de escrita maçônica, mais conhecido como alfabeto maçônico, sua origem, presença nos rituais e funcionalidades, além de algumas curiosidades.

Acredita-se que o sistema de escrita maçônica, também conhecido como alfabeto maçônico, foi desenvolvido na França do Século XVIII. Tinha como objetivo cifrar mensagens que eram restritas a maçons, que só poderiam ser decodificadas por outro maçom que possuísse a chave.

Mas por que cifrar conteúdos maçônicos? A resposta parece se desfraldar como um pergaminho antigo diante de nós, escrito em nossa língua mãe. Mas como diz o nosso Irmão e Historiador Felipe Côrte Real de Camargo “Muitas vezes, o trabalho do Historiador é explicar o óbvio.”. Levando esta fala em consideração, vamos falar de comunicação escrita e a necessidade de se codificar algo, para depois entrar no conteúdo maçônico.

O que diferencia o ser humano dos animais é a inteligência, a capacidade de raciocinar e analisar seus atos. Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, ou seja, necessita da vivência em comunidade, e para tal, precisa se comunicar. Dotado de inteligência e com necessidade de viver em comunidade, é fácil pensar no desenvolvimento da comunicação.

Uma das primeiras experiências em trocar mensagens, foi através da pintura rupestre, que datam de até 40 mil anos atrás. Elas expressam sociabilidades, rituais, práticas quotidianas etc. De lá para cá, passamos por escrita cuneiforme, hieróglifos e diversos outros códigos até desenvolverem a estrutura dos caracteres atuais, nos mais diversos idiomas.

O desenvolvimento da humanidade se aplica também a estrutura social, condensada em Estado, ou seja, a organização social de determinado povo em um território. E a comunicação e escrita, faz parte desse desenvolvimento.

Desde que a escrita foi inventada, ela é instrumento essencial para humanidade, sendo providencial para relações diplomáticas entre pessoas, e as mais diversas organizações. Comunicações entre nações, ordenamentos estratégicos, juras de amor etc. Uma carta nas mãos erradas, poderia desmobilizar exércitos, destruir relacionamentos e revelar segredos que poderiam comprometer o remetente, por isso o sistema de criptografia existe desde Idade Média.

Vissière (2009) cita o caso do reino dos francos, narrado pelo bispo Gregório de Tours:

Segundo ele, em pleno alvorecer da Idade Média, dois mensageiros de um certo Godovaldo, que reivindicava o trono, foram presos e torturados por homens do rei Gontrão ao tentarem transmitir uma mensagem secreta.

Conclui dizendo que nessa época, a escrita era uma forma muito vulnerável para comunicação, e que por isso, o mensageiro além da mensagem escrita, levava para transmitir de forma oral algo sigiloso.

A partir da necessidade do sigilo sobre determinadas informações, é desenvolvido vários modelos de criptografia. Vissière ainda diz que não eram os europeus os mestres da criptografia, e sim os Árabes:

Os verdadeiros mestres da criptografia entre os séculos VIII e XI não eram os europeus, mas os árabes. Seguindo o modelo persa, os manuais administrativos que circulavam no mundo muçulmano dedicavam capítulos inteiros aos códigos secretos.

Le Sceau Rompu (O selo rompido), uma inconfidência maçônica de 1745.

Voltando a questão inicial, como dito anteriormente, na Maçonaria a Criptografia parece surgir na França no Século XVIII. Segundo Mainguy (2013), seu princípio aparece por volta de 1745, na divulgação de Louis Travenol em 1744, em 1745 no Selo Rompido ou a Loja aberta aos profanos por um maçom[1] e no Anti-Maçons em 1748. Diz ainda que os alfabetos maçônicos dessas divulgações, estarão presentes na maioria dos rituais do Século XIX com diferentes chaves. A autora atribui ao alfabeto maçônico o empréstimos de outras criptografias, como o quadro mágico utilizados em estruturas conhecidas como por exemplo no alfabeto de Honório de Tebas e Henri Corneélius Agrippa.

A estrutura mais comum do alfabeto maçônico que conhecemos no Brasil, é aquela do jogo da velha e X, presentes na prancheta constante no painel de aprendiz maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito.

O citado modo de criptografia é comum não só no Brasil, mas nas maçonarias mundo a fora, variando somente as chaves. O alfabeto maçônico, também conhecido como Cifra Pigpen (jogo da velha, tralha, cercadinho), era utilizada por maçons e rosacruzes. A utilização predominantemente por maçons no Século, servia para resguardar registros maçônicos e correspondência entre Lojas (Square Magazine, 2022).

Mas que informação relevante os maçons tinham que resguardar?
Enquanto Historiador, não posso me ater a uma resposta simples como “Resguardar o significado dos símbolos maçônicos”, pois isso é tão pueril que chega a dar dó. Parece aqueles romances Disney sobre o segredo de um tesouro perdido protegido e escondido por maçons abnegados. Analisando friamente, temos que nos ater alguns detalhes, como uma França extremamente católica.

Se pegarmos a data da Bula Papal In Eminenti (1738), que condenava maçons por todo tipo de motivo, dentre eles aceitar pessoas de todas as religiões, veremos que a data do surgimento da escrita maçônica é contemporânea ao antimaçonismo existente na França, que produzia em larga escala inconfidências maçônicas, e ataques aos maçons.

Por isso, não é difícil reconstruir um cenário que uma simples nota informativa sobre data e horário de reunião maçônica, poderia trazer difíceis reveses aos maçons endereçados, caso a mensagem caísse em mãos erradas. A criptografia, nesse caso servia para resguardar a integridade física, moral e social do maçom francês. Percebemos também que essas cifras eram utilizadas em mensagens e frases curtas, afinal não é comum grandes textos e tratados inteiros em escrita maçônica.

Alguns podem se perguntar como o Alfabeto Maçônico foi atravessar o canal da Mancha e parar nos painéis do Ritual Emulação. Primeiro, as evidências apontam a direção do surgimento na França, mas ninguém bateu o martelo sobre. Outra questão, é que na Inglaterra também existia antimaçonaria, afinal, segundo Camargo (2022) “A anti-maçonaria é tão antiga quanto a maçonaria moderna”. Porém, temos que lembrar que na Inglaterra, além da religião oficial não ser a Católica, muitos homens ligados a realeza, faziam parte da maçonaria.

O fato é que existe a escrita maçônica no painel do grau de mestre que foi desenvolvido por John Harris em 1845. Novamente, precisamos aqui fazer um exercício de reconstrução. Se repararmos os dois outros painéis (Aprendiz e Companheiro), não existe qualquer caractere, pois são símbolos de conhecimento comum, enquanto a lenda do terceiro grau é intrinsicamente da maçonaria.

Mesmo que os painéis fossem confeccionados para a utilização de Lojas Maçônicas, Harris era um artista. Pintava e restaurava livros (refazendo páginas) para ganhar a vida. Suas obras, mesmo que maçônicas, poderia parar no espólio de qualquer um. Daí pode vir a necessidade de guardar o que de fato era um conhecimento maçônico, e talvez por isso as letras em alfabeto maçônico estejam em seu painel do terceiro grau.

Alfabeto Maçônico no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)
Devido a inserção dos painéis do Ritual Emulação no REAA em solo brasileiro na reforma de 1928 realizada pelo Soberano Supremo Conselho do Gráo 33 do Rito Escocez Antigo e Acceito para os Estados Unidos do Brasil, durante muito tempo, a escrita maçônica foi considerada um enxerto nas entranhas do Rito. O que não é verdade. Em uma publicação de 1811, que provavelmente é uma versão do Guia dos Maçons Escoceses, intitulada Manuscrito Completo dos 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito[2] do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da França, é exposto o Alfabeto Maçônico.

No Ritual dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceito segundo as antigas obrigações[3] de 1829, ritual que consolidou o REAA, não traz o alfabeto e a chave. Porém em seu painel do primeiro grau, consta na prancheta o jogo da velha e o X em alusão a chave e o alfabeto. Imagino que neste caso, o conhecimento era sustentado apenas por tradição.

A utilização atual do Alfabeto Maçônico
No Brasil, a utilização dessa prática hoje é quase inexistente. Se resume a instrução do grau de mestre para que se saiba o significado dos caracteres no painel. É difícil encontrar qualquer escrito que não esteja relacionado a isto. Algumas Lojas, imprimem mensagens com tal escrita em seus livros de presença que aquece a cabeça de alguns maçons tentando decifrar sem a chave correta.



Para finalizar, este modelo de escrita não se resume a maçonaria, e caiu nas graças de uma geração inteira que leu o Manual do Escoteiro Mirim do Pato Donald, inclusive o menino do acre.  Mensagens criptografadas sempre despertou o interesse do jovem, maçom ou não. Afinal, quantos de nós em nossa infância não tínhamos códigos para manter em sigilo as mais variadas brincadeiras? De linguagem do P a códigos de escrita da Revista.

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[1] Sceau Rompu, ou la loge, ouverte aux Profânes par un franc Maçon em francês.
[2] Livre tradução.
[3] Livre tradução.


Por Cloves Gregorio

Cloves Gregorio, 37 anos, casado com a senhora Gislene Augusta, Pai do Menino Átila, Historiador, Professor e editor de livros, Venerável Mestre de Honra (Past) da ARLS UNIÃO BARÃO DO PILAR Nº21 Jurisdicionada ao GORJ, filiada a COMAB. Na Obediência já exerceu os cargos de Grande Secretário Adjunto de Cultura e Ritualística e Grande Secretário Adjunto de Comunicação e Informática.

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