Quando se fala em personalidade do Rito Escocês Antigo e Aceito, quase todo maçom pensa automaticamente em Albert Pike. O nome deste Maçom é citado tanto por estudiosos da história e filosofia da fraternidade, quanto por seus detratores, que por sinal não são poucos. Albert Pike, nasceu em Boston, Massachusetts, no ano de 1809. Segundo uma pequena biografia, na versão em português de Moral e Dogma da Livraria Maçônica Paulo Fuchs:
Recebeu sua educação inicial em Newburyport e em Framingham, e em 1825 ingressou no Harvard College, sustentando-se e ao mesmo tempo ensinando. Tinha chegado apenas ao ginásio quando suas finanças o compeliram a continuar seus estudos sozinho, ensinando enquanto estava em Fairhaven e Newburyport, onde era professor efetivo do curso de gramática e depois teve uma escola particular. Anos mais tarde, alcançou tal distinção na literatura, que recebeu o grau de Mestre Honorário em Artes na Universidade de Harvard, da qual ele tinha sido excluído no colégio por falta de possibilidade de pagar seus estudos.
Pike era como qualquer erudito de seu tempo e atuou em diversas áreas. Desde um nômade viajante pelas terras do Oeste, de onde lhe rendeu até mesmo um Livro (Prose sketches and poems written in the western country), a jornalista para o Little Rock Advocate. Em 1835 foi autorizado a advogar no Arkansas, e o fez até a guerra do México, quando se juntou as tropas em 1846. Depois de atuar como advogado até na suprema corte dos EUA, escreveu o livro “As máximas da legislação Romana e Francesa” em três volumes. Pike tinha uma proximidade grande com os povos indígenas, e atuou representando a defesa dos mesmos, chegou a ganhar uma causa milionária em conjunto com sua equipe em favor dos índios Choctaw. A pequena biografia ainda diz que Albert Pike “Foi indicado Comissário para as tribos do Território Indígena. Como tal, conseguiu a aliança dos índios Creek, Seminole, Choctaw, Chickasaw e parte dos Cherokee com a Confederação. ”.
Em agosto de 1861 recebeu o posto de General Brigadeiro dos Estados confederados e comandou destacamentos de indígenas, mas sua carreira de militar não foi tão espetacular quanto foi a de advogado e escritor, perdeu batalhas e foi preso. Após o término da guerra Pike morou em Memphis no Tennesse e depois fixou residência em Washington D.C. Foi advogado atuante na corte até 1880 e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a Jurisdição Sul dos EUA por 32 anos.
A pequena biografia termina descrevendo os dizeres da estátua de Pike, do qual reproduzirei agora:
“Pioneiro, um cruzado da justiça para os índios americanos, brincalhão, reformador, jornalista, filósofo, advogado proeminente…
…general da Guerra Civil, violinista, cantor, compositor; realmente, um homem da Renascença”.
Algumas Curiosidades sobre a vida Maçônica de Pike e suas Obras
Maçônicamente Albert Pike é um expoente no Rito Escocês, tendo sido Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a Jurisdição Sul dos EUA do ano de 1859 até sua morte em 1891. Além de ter contribuído com a reformulação dos graus, diversas obras são utilizadas até hoje na educação maçônica dos irmãos filiados aquele Supremo Conselho, como por exemplo o programa Mastercraftsman (mestre artesão), que compreende ensinamentos complementares do Rito Escocês e que utiliza o Esoterika, que é um livro de apoio do Módulo I – Loja simbólica, e o Moral e Dogma, versão comentada por Arturo de Hoyos no Módulo III – A filosofia do Rito Escocês.
O Moral e Dogma, considerado sua obra prima, compreende ensaios filosóficos utilizando os símbolos do Grau 1 ao 32 do REAA, com o intuito de melhorar o entendimento dos irmãos que galgam aos graus superiores. O livro também é alvo de conspiracionistas e antimaçons, do qual até inventaram um capítulo contendo o “segredo” do Grau 33 que basicamente se resume em atingir a iluminação através de Lúcifer, sendo que conforme dito anteriormente, o Livro só vai até ao Grau 32. Talvez o mais famoso antimaçom detrator do sábio maçom seja Léo Taxil, que atribuiu a figura de Pike um título equivalente a “Papa da Maçonaria” e que em suas palavras em uma conferência realizada em 19 de abril de 1897, confessa suas mentiras:
Outro motivo era que tínhamos situado nos Estados Unidos, em Charleston, o centro do Paladismo, dando-lhe como fundador o defunto General Albert Pike, Grão-Mestre do rito escocês na Carolina do Sul. Este maçom célebre, dotado de grande erudição, havia sido uma das altas luzes da Ordem; nós o convertemos no primeiro papa luciferiano, chefe supremo de todos os francos-maçons do globo, conferenciando regularmente, toda sexta-feira, As três da tarde, com o Senhor Lúcifer em pessoa.
Ou seja, Léo Taxil só não passava de um embusteiro aproveitador.
Aos que pretendem ler a famosa obra, é importante salientar que a parte que aborda o simbolismo no Moral e Dogma é referente ao trabalho Litúrgico realizado nas Blue Lodges americanas, ou seja, o Rito de York, e não ao Rito Escocês como conhecemos no Brasil. Um exemplo disso são as ferramentas apresentadas para o Grau de Aprendiz, que são o Maço e a régua de 24 polegadas, conforme imagem de apoio. Uma curiosidade a ser apresentada é que quando Falamos Rito Escocês Antigo e Aceito ou Rito de York nos EUA, refere-se aos sistemas de graus superiores.
Ainda Hoje existe uma estátua de Albert Pike que foi erigida pelo Supremo Conselho do Grau 33 do REAA para jurisdição Sul dos EUA, logo após sua morte em 1891. Segundo o site do “The El Paso Scottish Rite”, Pike é o único oficial militar confederado que tem uma estátua ao ar Livre em Washington, DC. Em 2017, o monumento foi alvo de protestos e vandalismos como denunciou Edgar Freitas em seu maravilhoso “York Blog”. Os protestos se devem ao Maçom ter sido General do exército confederado, mas como aponta o próprio autor do Blog, já aconteceu antes só que por fundamentalistas religiosos, além de ser um prato cheio para políticos aproveitadores.
Outra curiosidade sobre Pike trazida pelo site do “The El Paso Scottish Rite”, é que o mesmo em 1883 foi recebido em El Paso para instalar a primeira Loja do Rito Escocês na região e na ocasião ele próprio supervisionou e ajudou um carpinteiro local chamado John J. Stewart (Mais escocês que isso impossível) na confecção da mobília para a sala da Loja, que incluía desde o altar em redwood (Sequóia) com chifres em cobre a colunas, corrimões e candelabros de madeira. Esse mobiliário foi utilizado pela Loja de Perfeição no vale de El Paso até 1952, quando perceberam que o material se deterioraria e o separaram em uma sala para preservação e exibição dos itens. Hoje essa sala é conhecida como a “Sala de Pike”.
Referências
PIKE, Albert. Moral e Dogma. Tradução de Ladislau Fuchs.
NETO, Edgard Costa Freitas Neto. Estátua de Albert Pike no centro de controvérsia nos EUA. Disponível em: https://york.blog.br/estatua-de-albert-pike-no-centro-de-controversia-nos-eua/. Acesso em maio de 2019.
TAXIL, Leo. A conferência de Leo Taxil. Tradução de L P Baçan.
El Paso Scottish Rite. Albert Pike Room. Disponível em: http://www.elpasoscottishrite.org/albert-pike-room.html. Acesso em maio de 2019.