Atualmente no Brasil o teto do templo é recheado de astros e planetas, geralmente ligados ao mito solar. Inicialmente apenas orientava-se ser abobadado com estrelas. Essa mudança acontece a partir do Ritual do Gráo de Aprendiz – Maçon (GR.I) – Grande Loja Symbólica do Rio de Janeiro de 1928 que vai influenciar o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) em todo o país.
Primeiro vamos tratar do seguinte assunto: Abóboda ou Teto Abobadado? Segundo CRUZ (2020):
Abóbada é uma estrutura arquitetônica de formato curvado usado para cobertura de espaço entre dois muros ou vários pilares. Ela é usada em igrejas, templos, catedrais, galerias subterrâneas, entre outros tipos de obras.
Quando falamos de um teto abobadado, trata-se da parte superior de uma edificação feita com o formato esférico.
Hoje utilizamos a palavra abóboda para se referir a qualquer teto de Loja Maçônica que funcione no REAA, sem que necessariamente tenha um formato esférico. Agora que sabemos a origem da palavra, vamos aos elementos constantes em nosso teto do templo.
Estrelas
Aldebaran, Regulus, Antares e Fomalhaut:
Denominadas de Estrelas Reais, os Persas por volta do ano 3000 Antes da Era Comum, já observavam esses quatro astros que estavam ligados aos pontos cardeais e as estações do ano.
Aldebaran: Guardião do Leste, representava a chegada da Primavera.
Regulus: Guardião do Norte, representava a chegada do Verão.
Antares: Guardião do Oeste, representava a chegada do Outono.
Fomalhaut: Guardião do Sul, representava a chegada do Inverno.
Além das estrelas reais, temos:
Híades: Visíveis no Inverno no Hemisfério Norte.
Plêiades: Visíveis no Outono no Hemisfério Norte.
Arcturus: No Hemisfério Norte mais visível nas noites de primavera e início do verão.
Spica: Ou Espiga, é uma estrela binária, associada a fertilidade e a primavera.
Constelação de Órion: Também conhecido como Cinturão de Órion, ou no Brasil Três Marias, fica mais visível durante o Inverno no Hemisfério Norte.
Constelação de Ursa Maior: Formada for sete estrelas é constantemente utilizada para se encontrar o norte.
Planetas
No início do Século XX houve um “boom” de correntes esotéricas que deu origem ou popularizou várias ordens herméticas. Costumo dizer que a Maçonaria influencia e sofre influência da sociedade em que está inserida, e não foi diferente com o hermetismo. Se antes os conceitos estavam presentes em nossos rituais de forma mais sutil, a partir da reforma de 1928 foi inserido em nossos rituais os seis dos sete planetas astrológicos na alegoria da abóboda celeste, ou seja: Sol, Lua, Júpiter, Mercúrio, Vênus e Saturno.
Sol e Lua: Juntos do Venerável Mestre de uma Loja, são as três sublimes luzes da maçonaria. Originalmente estariam em um painel atrás do Venerável Mestre e representa que o Sol controla o dia, a Lua a noite, e o Venerável a Loja, mas hoje encontra-se no teto da loja também. Nos conceitos herméticos o Sol está associado ao Masculino, força e vigor, enquanto a Lua está ligada ao feminino, intuição, subconsciente e mistérios iniciáticos.
Júpiter: Na Maçonaria é comum associarem ao Venerável Mestre de uma Loja. Entre seus aspectos astrológicos estão poder liderança e justiça.
Mercúrio: Na Maçonaria é associado aos cargos tanto de Orador pela qualidade da comunicação, quanto de Mestre de Cerimônias por representar um mensageiro. Seus aspectos astrológicos são conhecimento, habilidade e comunicação.
Vênus: Comumente associado ao 2º vigilante. Tanto que no Ritual de 1928 junto aos altares das luzes eram colocadas três estátuas, sendo elas Minerva, Hércules e Vênus, representando respectivamente Venerável Mestre, 1º e 2º Vigilante. Seus aspectos astrológicos são beleza, amor e harmonia.
Saturno: Por estar relacionado a inflexibilidade do tempo ao ser representado por Cronos, muitos autores associam esse planeta ao Tesoureiro, que cobra com vigor e energia inflexível. Na astrologia representa tempo, transição e morte.
E Marte? Não consta na abóboda celeste. Não é difícil imaginar que tenha ficado de fora por representar na astrologia guerra e conflito.
Conclusão
Os astros no céu são reverenciados desde a antiguidade. GUEDES (2017) ao explorar o mito solar, afirma que as antigas religiões adoravam a natureza em suas múltiplas variações e que não acredita que o culto e os símbolos são invencionices arbitrárias, mas emanações do inconsciente.
Contudo a maçonaria não é religião. Logo percebemos que as estrelas e constelações constantes na atual configuração da abóboda celeste anunciam a chegada das estações contribuindo com a mítica solar que está presente no Rite Ecossaise ancien et accepte des trois premiers degrés Selon les anciens Cahiers de 1829.
Porém não se pode negar que a maçonaria está impregnada de lendas e crenças religiosas, inclusive ensinamentos esotéricos ligado aos astros. Hoje, talvez pelos avanços tecnológicos, é difícil para nós imaginarmos que o céu anunciava os meses de colheita e até mesmo guiava viajantes perdidos e que este conhecimento ganhava um aspecto divino por serem instrumentos de anunciação. Estes ensinamentos antigos ganharam apelos alegóricos e foram parar em diversos lugares, inclusive na maçonaria. Por isso, dizer que não existe esoterismo na maçonaria (mesmo que presente de forma sutil) é como dizer que um fruto não tem polpa.
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Referências:
Guide des maçons écossais (1816-1821)
Rito Ecossaise ancien et accepte des trois premiers degrés Selon les anciens Cahiers de 1829
Instruções Maçônicas ou Catecismo e Regulamento Geral da Loja Brazileira Commercio e Artes de 1833
Guia dos Trabalhos Symbólicos do Rito Escossez Antigo e Acceito de 1874
Ritual do 1o Gráu – APRENDIZ – Adotado pelo Supremo Conselho do Brasil – GOB de 1898
Ritual do Gráo de Aprendiz – Maçon (GR.I) – Grande Loja Symbólica do Rio de Janeiro
Guia dos Maçons Escocezes de 1834
GLMERJ. Ritual do Simbolismo – Aprendiz Maçom (GR. 1), 1982
GOB. Ritual Rito Escocês Antigo e Aceito – 1o Grau – APRENDIZ, 1998
GORJ. Ritual do Aprendiz Maçom, 2012
CRUZ, Talita. Disponível em: https://www.vivadecora.com.br/pro/abobada/. Acesso em maio de 2022.
MILWARD, Janine. Quatro Reais Estrelas: Aldebaran, Regulus, Antares e Fomalhaut. 2022
ALEMÃO, Portilho. Arcturus. Disponível em: https://www.meteorologiaenred.com/pt/arcturus.html. Acesso em maio de 2022.
Tristar History. Constelações. Disponível em: https://pt.tristarhistory.org/constellations. Acesso em maio de 2022.
MAZIA, Bruno. OS SETE PLANETAS SAGRADOS OU SETE GÊNIOS. 2022.
SOUSA. Carlos Antonio Porto de. A ASTROLOGIA E A MAÇONARIA. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/OBuscador/article/download/5054/4312#:~:text=A%20Lua%20rege%20C%C3%A2ncer%20e,e%20%C3%A9%20exaltado%20em%20Capric%C3%B3rnio. Acesso em maio de 2022.
wikiHow. Como encontrar as Plêiades. Disponível em: https://pt.wikihow.com/Encontrar-as-Pl%C3%AAiades#:~:text=Procure%20pelas%20Pl%C3%AAiades%20no%20outono,seu%20ponto%20m%C3%A1ximo%20no%20c%C3%A9u. Acesso em maio de 2022.
Univesp. Estrelas Reais. Disponível em: https://univesp.br/noticias/estrelas-
reais#:~:text=Os%20antigos%20acreditavam%20que%20a,a%20mais%20influente%20de%20todas. Acesso em maio de 2022.